quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Afeto e cumplicidade com nossos filhos

Olá.. sou eu de novo! a Gabriella, vamos ao assunto de hoje.
Filho pode ser melhor amigo de mãe e pai? Mas, então, como passar segurança, confiança, respeito e, o principal: limite? A medida para equilibrar sentimentos tão importantes é o segredo para que a educação colabore para o desenvolvimento emocional e nas relações das crianças no futuro.
Você já ouviu um segredo do seu filho e guardou como uma joia rara, tranquilizou o coração dele depois da briga com um amigo, ensinou que é preciso pedir desculpas e – o mais difícil – que é fundamental perdoar, mostrou desde seus primeiros passos que naquela mesinha ele não podia mexer. Aos poucos, vai revelando que a vida é permeada por erros e acertos, o tempo todo. E sabe qual palavra pode ser associada a todos esses momentos? Cumplicidade. Ela acontece desde a gestação, como você pode imaginar, mas é no dia a dia, num ambiente seguro e de parceria, que essa relação de confiança e respeito vai se fortalecer.
Colo. Pense em uma imagem-símbolo de aconchego entre mãe e filho – puxe pela memória a sua infância também – e veja se essa cena de segurar o bebê não surge instantaneamente. O toque é a demonstração mais clara de “dizer” à criança que você está lá, do lado dela sempre que precisar. Mais que um gesto de carinho traz benefícios que você não imagina. Um dos estudos realizados pela psicóloga norte-americana Tiffany Field, fundadora do Touch Research Institute (Instituto de Pesquisa do Toque), mostrou que as crianças que nos primeiros quatros meses de vida recebem o toque junto com outros estímulos são mais sorridentes e choram menos. “Gestos, toques, expressões faciais e tom de voz se revestem em significados. No processo da educação, tão importante quanto aquilo que é dito é aquilo que é sentido”, descreve a psicóloga Ceres Alves de Araújo em seu livro Pais que Educam (Ed. Gente).
E quanta coisa pode acabar (ou começar) apenas em um olhar? Para Astrid Fontenelle, 49, jornalista e apresentadora do GNT e mãe de Gabriel, de 1 ano e 8 meses, é a marca entre os dois. “Quando eu estava me preparando para recebê-lo, minha terapeuta alertou sobre a importância de olhar de verdade para um bebê”, conta ela sobre os dias que antecederam a adoção de Gabriel. “O adulto que não tem por hábito olhar no olho foi uma criança que não recebeu isso dos pais. O olhar é a troca gostosa, dá um recado, uma bronca na hora certa. É a cumplicidade. Na minha infância, eu respeitava minha mãe só pelo olhar. Com o Gabriel também é assim”, afirma.
A CUMPLICIDADE ACONTECE NOS MOMENTOS MAIS SIMPLES
Você, claro, já deve ter percebido o quanto a comunicação sem palavras não é apenas teoria. Quantas vezes já tentou esconder do seu filho (e não conseguiu) que não estava bem ao chegar do trabalho? Essa troca é tão forte que, por mais que você queira proteger a criança dos seus problemas, vai se sentir obrigado a compartilhar. Muitas vezes, deverá mesmo contar o que está acontecendo pois ele tem de participar da dinâmica familiar. É importante para a criança não se sentir excluída. Uma pesquisa realizada pela University of Reading, na Inglaterra, mostrou o quanto o relacionamento entre mães e filhos influencia no desenvolvimento emocional da criança. Foram reunidos 69 estudos anteriores sobre o tema, com mais de 6 mil crianças menores de 12 anos e, de acordo com Pasco Fearon, psicólogo e autor da pesquisa, todos levam à mesma conclusão: a falta de um relacionamento seguro dos pais com as crianças desde os primeiros anos pode fazer com que se tornem agressivas e hostis. Mas, o que é esse relacionamento seguro? “É ter a verdade como base de tudo, ainda que você tenha que filtrar os detalhes”, afirma a psicóloga clínica Patrícia Furuta de Marco, de São Paulo. Não, não é contraditório. Alguns assuntos, como problemas financeiros sérios, só vão deixar a criança ansiosa porque ela não tem maturidade para entender e muito menos para ajudar. É como você assumir para seu filho que está triste porque brigou com o pai dele, mas sem esmiuçar o porquê da discussão.
Só assim a criança também vai se sentir segura para dividir medos e angústias, querer contar suas descobertas e, por que não, assumir as travessuras. Essa cumplicidade pode não só evitar saias-justas como também ajudar a agir diante delas. A analista de marketing Andrea Ricci, mãe de Vinicius, 6 anos, viveu uma situação muito comum e uma das mais delicadas: a hora da mentira. “Havia passado uma semana do aniversário do Vi e ele chegou em casa com uma bola do seu time preferido dizendo que era um presente do amigo da escola. No dia seguinte, a diretoria nos enviou um comunicado pedindo a gentileza de devolver a bola, que era de um colega”, contou. Além da vergonha, o mais difícil, segundo Andrea, foi fazer com que o filho assumisse a mentira. “A gente conversou muito e não foi em um dia só. Tudo para ele entender que podia, sim, falar a verdade.” Claro que o limite foi mostrado de outra forma: o menino ficou um mês sem videogame mas, mesmo com o castigo, ele percebeu o quanto podia confiar nos pais, e isso foi importante. Porque limite também faz parte da cumplicidade.
Colocar uma canção para o seu filho ouvir, trocar emoções, contar histórias, criar momentos cheios de referências culturais, expor pontos de vista, viver tudo isso ao lado da criança é cumplicidade pura.
SEMPRE JUNTO
  Não é preciso uma situação complexa como a da Andrea para essa parceria vir à tona. Pode acontecer quando você ensina seu filho a nadar, num bate-papo na hora do almoço ou soltando bolhas no quintal de casa. O escritor de literatura infantil Ilan Brenman está atento a cada minuto com as filhas, Lis, 6 anos, e Iris, 3. No dia da entrevista, ele falava com a gente enquanto via Lis, sentada no sofá ao seu lado e de cara amarrada. “Acabamos de voltar do parquinho, e eu estava ensinando-a a andar de bicicleta sem rodinhas, mas ela ficou nervosa porque não conseguia e queria desistir. Apesar de eu também ter ficado nervoso, disse a ela que precisava levantar e tentar de novo”, afirma.
Estes momentos em família são fonte de inspiração do escritor. O livro Até as Princesas Soltam Pum (Ed. Brinque-Book) surgiu quando ele, a esposa e a primeira filha estavam no que parecia ser um dia como qualquer outro. “De repente, surge aquele cheiro de repolho com queijo provolone e azeitonas gregas. Minha esposa olha para mim e diz: ‘Foi você?’, respondi que não e aí, nós dois olhamos para a nossa pequena princesa Lis e, pela carinha dela, se entregou. Caímos na risada e, claro, ela não gostou e começou a chorar. Ficamos culpadíssimos, até que a minha esposa a colocou no colo e disse: ‘Não chora, filha, até as princesas soltam pum’. Lis parou de chorar imediatamente e eu corri para o computador escrever.”
Ilan eternizou uma história particular em um livro e vem inspirando outros pais a ter esses pequenos momentos “secretos” que só acontecem quando há confiança e, por que não, amizade. Sabe quando o seu time de futebol perde e você vê seu filho chorar de tristeza? Dar colo, oferecer um abraço apertado ou até chorar junto mostra o quanto vocês são companheiros. E é exatamente uma situação como essa que cria e fortalece a cumplicidade. É assim também que a gente mostra aos filhos que a vida não é perfeita e, por mais que algumas coisas não sejam tão agradáveis, elas acontecem. Até mesmo as derrotas no futebol – ou os puns!
De tudo que podemos ensinar a uma criança, impossível saber o que ficará nela para sempre. Talvez uma música, talvez um abraço, uma dança. Por isso que cada momento é tão precioso. Por isso é preciso estar junto.
DICAS PRÁTICAS
Compartilhe. Tenha um diálogo aberto com o seu filho, traduzindo a realidade de maneira que possa entender de acordo com a idade dele. Se você chegou cansado do trabalho depois de um dia estressante e ele pede para brincar, conte que o seu dia não foi fácil, mas que estará mais animado no dia seguinte.
Não critique. Os erros fazem parte do crescimento das crianças. Cuidado com as broncas dadas sem explicação. Mostre o caminho certo e que está ao lado dele. Se você recebeu um bilhete da escola contando que ele bateu num amigo, diga que é preciso que ele se desculpe e que não repita mais o ato.
Participe. Esteja presente, ainda que saiba que o tempo que você tem não é o quanto gostaria. Leia um livro, encontre um dia para buscá-lo ou levá-lo para a escola (se for de surpresa, ainda melhor), faça uma refeição com ele, dê um telefonema ao longo do dia.
Abrços
Gabriella

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